Welcome to Demonland

Abre-te grande portão, dá-me vida, dá-me vidas. Entra em todos os lugares escuros e cura-me de doenças menores, eu quero o grande mal, aquele que nunca acaba. Eu sou o desejo do demónio, a vontade escura que nunca se consome. Entrem em mim e façam de mim um fantoche, eu choro, grito e acolho TUDO.

Anda, anda comigo devagar, eu entro, eu sou. Não castigues o corpo com fumo, eu digo-te as rosas são os olhos, as mãos o alabastro em chamas e eu o único grito que terás de ouvir. Eu o astro, eu a chama, ninguém senão eu, ninguém. Outra coisa é a minha vontade, outra o delírio incarnado, a tua testa possuída brilha no escuro mais que mil luzes, mais que a estrela, mais que o Sol. Eu demónio me conheço e sou aquele de quem nunca ninguém duvidou. Eu quis um canto, uma prece e lhes falei em todas as línguas conhecidas do Homem mas ninguém ouviu. Pois digo-te agora não temas, entra seguro que terás uma morada onde tudo arde eternamente. Nas ondas de sangue farás surf, serás como um deus entre os destroços. Eu conheço-te, eu vi-te crescer nas ruas cinzentas da cidade e dei mais de mim para que fosses quem és. Eu mostro-te de novo, acorda e vê, cheira os cadáveres, estão todos mortos e só tu sabes. O último aviso é agora, entrega-te ou não voltes.

A janela mais curva, mais curvada, tenta dizer-lhe o que vês através dela. O mundo em chamas, a pele a deslizar das caras, uma multidão de crânios, todos se riem e mostram os dentes negros, eu rio-me também mas de uma piada diferente. A minha vontade é que saibam o que são e que roguem perdão aos céus e que se percam. A faixa mais negra, mais escura, atravessada por uma alma desfeita e notas que fazem os anjos cair. A morte é uma piada comparada com isto, todos os sons tirados do coração feitos tinir das cordas do piano, todos os sons que o aparelho vocal humano produz tornam-se efémeros. Eu ardo por cima de tudo e sou aquele que destrói a confiança em tudo o que é humano. Não há mais de mim aqui, tornei-me por completo na negra vontade de tudo consumir sem restar nada. Ajudem-me agora os guardiões da chama eterna a entrar mais fundo. Onde as espadas têm dentes e o chão é feito de lanças. A correr sobre elas descalço e a não me aleijar.

As paredes caem sobre mim e respiram. Vejo o céu bastardo a ser sempre mais alto mas não temo cair na sua volúpia devastadora. Sou um, só um, sem me queixar nem montar prazeres que me escondam. Eu queria ter a coragem de esmagar crânios, de beber o sangue de todos sem me preocupar, de deslizar sobre os mares e chegar a um porto onde tudo fosse dor, tudo fosse dor infinitamente. E não temer a bruxa do destino nem a tecedeira do cordel, eu corto-o e afundo, eu cai duas dezenas de anos e caio ainda e ninguém me vai aparar a queda, a cratera será um novo reino onde todos farão parte de mim. Queria mais ainda, sempre mais, queria poder matar tudo, queria dar um pouco ao diabo e ficar com o resto, queria saber tudo e nunca esquecer quem me magoou e magoá-los também só que cem vezes, só que cem mil vezes da dose e mais e mais. Nunca conhecerão a fome como me conhecerão a mim. Nunca saberão da dor como saberão de mim. Nunca conquistarão, nunca conquistarão. Eu entro, eu sou, eu sei. Não mais conheço descanso ou a morte, tudo se torna sombra sob o meu abraço, tudo se torna pó. E eu rio, corro e grito e sou mais de mim que todos os poemas, sou a dúzia de me tornar EU. Sou o monstro caído dos céus a juntar legiões sob o meu comando e a fazê-las guerrear em nome de um tolo qualquer que se acha grande. Eu não me importo desde que todos ardam, eu gosto de vê-los arder.